os famos e as cronópias
distintos como as joias
as ruas e avenidas
por onde passa o galo
as frias madrugadas
calores e mansardas
coqueiros e aveloz
as crinas dos duendes
as famas e os cronópios
de repente
não mais que de repente
centenas e centenas
os anos são quinhentos e 20
ou mais
há quem os conte
assentos e acentos
os senhores e as escravas
os mucambos e as bengalas
os senegais de sonhos verdes
bem plantados
no chão há esperança
e os clichês na dança
dirreverência em reverências são
contados
palavras milionárias
que os velhos e empregados
as contenções, os afogados
o tamanho do frasco
perfumes que nos pratos
de prata escavada, moída, triturada
pelos dentes do trabalho.
o que significa o significado?
e antes
o quem? o enforcado?
a máscara de gás
que espécie de recado
as telas, as velas, os veleiros
os cruzeiros e os centavos.
canção desembalada
te ouço a cantá-la
pro teu avô mineiro
pra tua mãe baiana
pros teus primeiros e terceiros
tuas vidas, minhas aulas
assim te concretizo
sobrevivente e honesto
os teus pais tão paulistas
teu nome tão modesto
franciscos e franciscas
meu pai e tia xica
num bloco ornamentado
por palhaços e trocistas
o tempo nunca para
nunca para e para nunca
também se o tempo não tem graça
desgraça ele não tem
a hora a esperar e a trabalhar
sonha e sonha
os campos de açúcar
o mel a se derramar
de mentira em mentira
a tela, o dono, a dona sabe...
desculpas se atropelo
te peço antecipadas
as rimas não rimadas
novos e velhos, velhíssimos
novíssimos
carnavais.
nos roubam quando é noite
e fogem pelos cais
são pais e mães e mais e filhos e filhas
netas com açoites e noites
que ninguém dos deles
sabe vencer
porque é tal ganância
tão feias faces delirantes
as facas que se enterram
nos cabos dos punhais.
Aflitos e Olinda
os bairros e as esquinas
onde canta a madrugada
o dia a noite a tarde
o passo desaforado
a estica no pescoço
no pé da capoeira.
sai
vai
sai
sai
vai
esquece o imperativo
desanda a dançar
na rua sem motivo:
são carnavais.
raiz de povos fortes
mas os fortes e os canhões
as flechas e os tambores
que despertam as manhãs
sobreviventes todos
dinossauros e ancestrais
os cantos que não se escrevem
se repetem e se escrevem
na memória
olha o pro céu e esquece:
é carnaval.
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