quarta-feira, 1 de maio de 2024

BARAGATUM

o homem enlouquece
o cachorro tem raiva
gritaram na sala
cão vagabundo
e alguém se mexeu

o homem de vidro
o cachorro de palha
os mistérios do mundo
o fogo que apaga
ninguém prometeu

coqueiro atrevido / que vento te embala
no mote da abril / olha a rima que deu

a pedra é pesada
pensava e o cavalo
de sancho cansado
olha andando pro céu

quixote danado
empunhava de areia
um punhado e lançava
no rosto de maio

coqueiro atrevido / que vento te embala
no mote do raio / olha a rima que riu

o rei mais rabujento
soltava piadas
e pulgas na praça
o povo sumiu

a nova rainha
brandindo um livreto
soprava no apito
o hino da unção

coqueiro atrevido / que vento te embala
no mote de junho / trabalha um leão

sincero era um burro
de coice quadrado
sempre carregado
de palma e algodão

seu dono era dono
de um taco de terra
na terra da terra
da terra de adão

coqueiro atrevido / que vento te embala
no julho a mais fraca / é costela e pião

perfume perfeito
de doce madeira
se compra na feira
por centos cruzado

o dinheiro de pedra
a linguagem de barro
a história do mundo
}sem poço e sem fundo{
não tem cadeado

coqueiro atrevido / que vento te embala
no agosto sem mote / é coco e balaiada

a chuva inquieta
catuca o telhado
o pássaro bica
o miolo de pão

num tempo futuro
nem água se bebe
e fome se pega
com aperto de mão

coqueiro atrevido / no mote e setembro
uma nuvem de chumbo /se atira no chão

cigarro apagado
não enche cinzeiro
moeda de prata
na palma da mão

na palma dos olhos
somente a retina
periga essa tinta
não sair mais não

coqueiro atrevido /mote de outubro
não doce nem vento, coruja, pião

espiga de milho
boneca e pipoca
chega a prima vera
perto do fogão

a lenha aquecida
aquecendo a chaleira
o buraco na telha
parece um vulcão

coqueiro atrevido do ano não lembro
só lembro o novembro enfiado no chão.

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dezembro/janeiro/fevereiro/março.
mais estrofes? talvez.
2 mai. 1989 - 11 fev. 2025

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