o homem enlouquece
o cachorro tem raiva
gritaram na sala
cão vagabundo
e alguém se mexeu
o homem de vidro
o cachorro de palha
os mistérios do mundo
o fogo que apaga
ninguém prometeu
coqueiro atrevido que vento te embala
no mote da praia olha a rima que deu
a pedra é pesada
pensava e o cavalo
de sancho cansado
olha andando pro céu
quixote danado
empunhada de areia
um punhado e lançava
no rosto de abril
coqueiro atrevido que vento te embala
no mote da praia olha a rima que riu
o rei mais rabujento
soltava piada e pulgas
na praça o povo sumiu
a nova rainha
brandindo um livreto
soprava no apito
o hino da nação
coqueiro atrevido que vento te embala
no mote de maio trabalha um leão
sincero era um burro
de coice quadrado
sempre carregado
de palma e algodão
seu dono era dono
de um taco de terra
na terra da terra
da terra de adão
coqueiro atrevido que vento te embala
no junho a costela mais fraca se quebra com a mão.
perfume perfeito
de doce madeira
se compra na feira
por centos cruzado
o dinheiro de pedra
a linguagem de barro
a história do mundo
sem poço e sem fundo
não tem cadeado
coqueiro atrevido que vento te embala
no julho sem mote é coco e balaiada
a chuva inquieta
catuca o telhado
o pássaro bica
o miolo de pão
num tempo futuro
nem água se bebe
e fome se pega
com aperto de mão
coqueiro atrevido no mote de agosto
uma nuvem de chumbo se atira no chão
cigarro apagado
não enche cinzeiro
moeda de prata
na palma da mão
na palma dos olhos
somente a retina
periga essa tinta
não sair mais não
coqueiro atrevido em mote de setembro
não doce nem vento, coruja ou pião
espiga de milho
boneca e pipoca
chega a prima vera
perto do fogão
a lenha aquecida
aquecendo a chaleira
o buraco na telha
parece um vulcão
coqueiro atrevido do ano não lembro
só lembro o novembro enfiado no chão.
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dezembro/janeiro/fevereiro/março.
mais estrofes? talvez.
2 mai. 1989
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