minha vida
cara e pobre
vivo de comemorar
o que me falta
o que me sobra
a corda que o pescoço
corta
a lâmina a desafiar
o barro que ficou na sola
do pé
o acorde descabido
a fruta sem caroço
minha vida
farta e oca
tudo transformado
em festa
o que me aperta
o que me solta
o riso na garganta
o ânimo de respirar
anéis de temperança
a insônia das ovelhas
malabar de estrelas
a minha vida
nova e velha.
Letras de músicas que compus, umas poucas em parceria, a grande maioria entre os anos 1980 e 1990. Todas as mais antigas têm melodia, mas, muitas, não lembro mais como tocar, apenas vivem na minha memória. Algumas foram gravadas e dá pra ouvir clicando no link no final do post 🎧 onde se pode ler o nome das/os cantoras/es e do álbum. E agora, novas estão por vir, estão vindo, com melodia, sem melodia, do jeito que for...
quarta-feira, 27 de março de 2024
terça-feira, 12 de março de 2024
DESPEDIDA
adeus, dor
me despeço, vou embora
não volto outra hora
saudades não vou ter
pr'onde vou
não deixo endereço
não quero nem mesmo
notícias de você
eu te pedi
tantas vezes
pra deixar
eu ficar só
com a minha solidão
se você me ouviu
não quis me atender
hoje sou eu
que deixo você.
me despeço, vou embora
não volto outra hora
saudades não vou ter
pr'onde vou
não deixo endereço
não quero nem mesmo
notícias de você
eu te pedi
tantas vezes
pra deixar
eu ficar só
com a minha solidão
se você me ouviu
não quis me atender
hoje sou eu
que deixo você.
domingo, 10 de março de 2024
OS FAMOS E AS CRONÓPIAS
os famos e as cronópias
distintos como as joias
as ruas e avenidas
por onde passa o galo
as frias madrugadas
calores e mansardas
coqueiros e aveloz
as crinas dos duendes
as famas e os cronópios
de repente
não mais que de repente
centenas e centenas
os anos são quinhentos e 20
ou mais
há quem os conte
assentos e acentos
os senhores e as escravas
os mucambos e as bengalas
os senegais de sonhos verdes
bem plantados
no chão há esperança
e os clichês na dança
dirreverência em reverências são
contados
palavras milionárias
que os velhos e empregados
as contenções, os afogados
o tamanho do frasco
perfumes que nos pratos
de prata escavada, moída, triturada
pelos dentes do trabalho.
o que significa o significado?
e antes
o quem? o enforcado?
a máscara de gás
que espécie de recado
as telas, as velas, os veleiros
os cruzeiros e os centavos.
canção desembalada
te ouço a cantá-la
pro teu avô mineiro
pra tua mãe baiana
pros teus primeiros e terceiros
tuas vidas, minhas aulas
assim te concretizo
sobrevivente e honesto
os teus pais tão paulistas
teu nome tão modesto
franciscos e franciscas
meu pai e tia xica
num bloco ornamentado
por palhaços e trocistas
o tempo nunca para
nunca para e para nunca
também se o tempo não tem graça
desgraça ele não tem
a hora a esperar e a trabalhar
sonha e sonha
os campos de açúcar
o mel a se derramar
de mentira em mentira
a tela, o dono, a dona sabe...
desculpas se atropelo
te peço antecipadas
as rimas não rimadas
novos e velhos, velhíssimos
novíssimos
carnavais.
nos roubam quando é noite
e fogem pelos cais
são pais e mães e mais e filhos e filhas
netas com açoites e noites
que ninguém dos deles
sabe vencer
porque é tal ganância
tão feias faces delirantes
as facas que se enterram
nos cabos dos punhais.
Aflitos e Olinda
os bairros e as esquinas
onde canta a madrugada
o dia a noite a tarde
o passo desaforado
a estica no pescoço
no pé da capoeira.
sai
vai
sai
sai
vai
esquece o imperativo
desanda a dançar
na rua sem motivo:
são carnavais.
raiz de povos fortes
mas os fortes e os canhões
as flechas e os tambores
que despertam as manhãs
sobreviventes todos
dinossauros e ancestrais
os cantos que não se escrevem
se repetem e se escrevem
na memória
olha o pro céu e esquece:
é carnaval.
distintos como as joias
as ruas e avenidas
por onde passa o galo
as frias madrugadas
calores e mansardas
coqueiros e aveloz
as crinas dos duendes
as famas e os cronópios
de repente
não mais que de repente
centenas e centenas
os anos são quinhentos e 20
ou mais
há quem os conte
assentos e acentos
os senhores e as escravas
os mucambos e as bengalas
os senegais de sonhos verdes
bem plantados
no chão há esperança
e os clichês na dança
dirreverência em reverências são
contados
palavras milionárias
que os velhos e empregados
as contenções, os afogados
o tamanho do frasco
perfumes que nos pratos
de prata escavada, moída, triturada
pelos dentes do trabalho.
o que significa o significado?
e antes
o quem? o enforcado?
a máscara de gás
que espécie de recado
as telas, as velas, os veleiros
os cruzeiros e os centavos.
canção desembalada
te ouço a cantá-la
pro teu avô mineiro
pra tua mãe baiana
pros teus primeiros e terceiros
tuas vidas, minhas aulas
assim te concretizo
sobrevivente e honesto
os teus pais tão paulistas
teu nome tão modesto
franciscos e franciscas
meu pai e tia xica
num bloco ornamentado
por palhaços e trocistas
o tempo nunca para
nunca para e para nunca
também se o tempo não tem graça
desgraça ele não tem
a hora a esperar e a trabalhar
sonha e sonha
os campos de açúcar
o mel a se derramar
de mentira em mentira
a tela, o dono, a dona sabe...
desculpas se atropelo
te peço antecipadas
as rimas não rimadas
novos e velhos, velhíssimos
novíssimos
carnavais.
nos roubam quando é noite
e fogem pelos cais
são pais e mães e mais e filhos e filhas
netas com açoites e noites
que ninguém dos deles
sabe vencer
porque é tal ganância
tão feias faces delirantes
as facas que se enterram
nos cabos dos punhais.
Aflitos e Olinda
os bairros e as esquinas
onde canta a madrugada
o dia a noite a tarde
o passo desaforado
a estica no pescoço
no pé da capoeira.
sai
vai
sai
sai
vai
esquece o imperativo
desanda a dançar
na rua sem motivo:
são carnavais.
raiz de povos fortes
mas os fortes e os canhões
as flechas e os tambores
que despertam as manhãs
sobreviventes todos
dinossauros e ancestrais
os cantos que não se escrevem
se repetem e se escrevem
na memória
olha o pro céu e esquece:
é carnaval.
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